Testemunho Margarida Gago

TESTEMUNHO DA MARGARIDA GAGO
Foram 3 fantásticos meses que passaram a correr, foi tudo em grandes proporções, o sentimento e as ações. Recebi mais do que dei, aprendi com quem mais necessita - as crianças, que muito têm para nos ensinar. Esta aventura surgiu da necessidade de fazer uma pausa com o objetivo de realizar um sonho, parar para pensar no futuro e partir para a aventura. E assim foi, a 17 de Março de 2015 que começou a minha vida no mato rodeada por 120 meninas diariamente.

No dia seguinte à minha chegada deu-se a distribuição alimentar que ocorre trimestralmente. Aí tive a oportunidade de participar e observar a “dimensão” que o Centro Laura Vicuña tem na comunidade de Inharrime, das famílias que dependem daquela ajuda (arroz, óleo, açúcar e sabão) para poderem viver.

Às 06h00 de dia 19 comecei o dia a investigar qual a rotina do “pelotão” de meninas que viviam ali comigo. Acordar, matabichar, ver as meninas a fazerem as suas tarefas diárias (cozinhar, lavar roupa, limpar e arrumar) e finalmente às 9h serem “só minhas”. Horário reservado para o estudo, onde tínhamos 2 horas para podermos mutuamente tentarmos resolver os trabalhos de casa e/ou esclarecer dúvidas e proporcionar método de estudo. O mesmo se repetia depois do almoço com outro grupo de meninas que estudavam no período da manhã. Entre e durante estes períodos a brincadeira era o prato principal, fosse nos baloiços, a fazer penteados, pinturas e desenhos, dançar e até jogar às escondidas.

Só o facto de poder ser trançada pelas meninas era um momento só nosso, onde podíamos falar de coisas só nossas, partilhar momentos que só ali se proporcionavam.

A parte da tarde tinha a sua cota de especial, como o momento de ir à padaria buscar pão e ver que bolos é que as meninas (Sheila e Norimia) tiveram a fazer, conversar com elas ao mesmo tempo que me deliciava com os restos que ficaram nas formas, era precioso. Os deliciosos passeios com a Rosilda e a Alcinda, entre outras meninas à padaria para lhes dar a delícia que elas tanto ansiavam e se deliciavam.

Perceber que o nosso esforço e dedicação (meu e delas) deu frutos, era o melhor presente do dia, ver que a Engrácia já sabia fazer multiplicações ou a caligrafia da Madina evoluía de dia para dia…

Ver a evolução da Rosilda de 3 anos que tinha chegado ao Centro há pouco, inicialmente mal falava com alguém e passado tão pouco tempo já era um novo ser, cheio de alegria e energia. 

Durante a minha estadia apercebi-me da relevância do programa de aleitamento, onde pude ver algumas mães que estavam sentadas nas mesas de “entrada” debaixo da árvore a aguardar pela Margarita (voluntária espanhola) que chegavam com os seus bebés para receber leite em pó para darem aos seus filhos pois não tinham como amamentar por estarem sem leite ou mal nutridas, só a ação de chamar a Margarita e dizer-lhe “já temos mais um bebé” me deixava feliz, saber que aquela criança haveria de crescer e possivelmente ter um futuro. Não deixando de lado o programa de apadrinhamento, um dos alicerces daquelas crianças, que lhes proporciona os meios para puderem crescer saudáveis e terem acesso à educação.

Outro momento passado com as meninas foi na machamba a plantar ananás, em época de renovar a terra e plantar novas ramas, participar no dia-a-dia, lado a lado nas atividades do Centro, entre muitas outras coisas. Nada disto seria possível sem as Irmãs Salesianas que lutam para que esta obra chegue mais longe, acolheram-me e abriram a porta de sua casa e fazem com que tudo isto seja uma realidade.
Esta foi uma experiência inesquecível, ajudar alguém que é feliz com tão pouco, que tem uma vontade de aprender e querer mais. E isso vê-se nos olhos e nas ações daquelas crianças, a vontade de vencer, de querer ser alguém!

Mudou a perspetiva como vejo a vida, onde a felicidade reside na simplicidade! E fez-me ter um sonho ainda maior.

Decorei cada cara, cada nome…
Share by: