Testemunho da Madrinha Maria do Carmo

TESTEMUNHO DA MADRINHA CARMO
Sou a Carmo, 52 anos, casada, 5 filhos, voluntária em Inharrime no mês de novembro de 2018.
Somos família de apadrinhamento desde 2009 e o nosso afilhado atual é o Lino Filomena, de 5 anos.

O Lino, mora perto do Centro Laura Vicuna, em Inharrime. Vive numa palhota com ao sua mãe e os seus 4 irmãos.
Quando cheguei, na companhia das 2 voluntária espanholas, a Pilar e a Angeles, fomos recebidos pela mãe, uma mulher com um sorriso doce. Cozinhava matapa (folha de mandioca com amendoim) na sua cozinha. É a mãe Filomena que tem a seu encargo a família.

Mostrou a sua casa, uma palhota com 2 divisões. A 1ª divisão é o espaço comum, com uma pequena prateleira de terra com pratos e utensílios de cozinha, muito bem organizados. A 2ª divisão mantinha o chão de terra muito limpo e calcado e um fio suportava as roupas. Ai dormem os 5 na sua esteira. Quando chove molham-se ou mudam-se para a 1ª divisão. É tudo o que têm.

Vivem sobretudo da troca de produtos. Têm na sua machamba (horta) amendoins, mandioca, mangas e entre vizinhos vão trocando os bens que possuem. Recebem 4 vezes ao ano alimentos que o programa de apadrinhamento dos Amigos de Inharrime, disponibiliza. É uma ajuda preciosa para a economia doméstica desta família.

Quando cheguei o Lino andava a brincar com o seu irmão gémeo nos campos à volta da casa. As irmãs foram chamá-lo e no meio das correrias lá apareceu com um ar de espanto que teimava em permanecer.

Conseguimos este sorriso maravilhoso ao fim de muito tempo. Após um banho de alguidar, trocou a sua roupa e vestiu a nova t-shirt . Aproximou-se e quis ver as fotos que tirámos juntos. Admirou os seus presentes, pintou o seu livro de histórias e olhava em seu redor.

Como habitualmente acontece, no contato com as pessoas locais, há sempre algo que querem partilhar connosco. Queriam que ficássemos para jantar. A matapa seria para partilhar entre todos. É uma família unida e feliz nos campos de Inharrime.

Conhecer o Lino, na sua realidade concreta, passar a imaginar o seu quotidiano, a sua família, a sua casa, o seu sorriso, as suas brincadeiras foi um presente que a vida me deu. Para partilhar na minha chegada que as pessoas são boas e estão dispostas a dar.

Este mês em Inharrime foi como viver o excesso do dom da gratuidade. Primeiro pela presença da irmã Lucília e das Irmãs desta comunidade que tornam possível esta obra de meninas lindas e com projetos de vida . As Irmãs que suportam a obra todos os dias.

Os voluntários valorizam também a obra, passam e cada um deixa de si a melhor parte. Foi para mim um bem maior ligar-me a esta gente especial que passa por Inharrime.

Têm-me questionado se esta experiência mudou a minha vida. Tudo o que trago desta minha vivência terá tanto ainda por explorar com este imenso sentimento de gratidão, que este sim, seguramente, muda a nossa vida. Por agora, talvez seja mais seguro dizer que mudou a minha vida todo o caminho que fiz para chegar a Inharrime e saber que me espera sempre, nos meus regressos, o abraço da minha família. E sim, vamos mudando. Como não, com este excesso de gratuidade!
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